Olá, minha gente!
Nossa, fazia um tempinho que eu não aparecia aqui, né? Não trago desculpas nem justificativas, apenas a constatação genérica de, nossa, como o tempo passa rápido, hein? Nesse meio tempo eu trabalhei em vários roteiros de quadrinhos pra cá, mas no rebuliço tremendo da minha vida, com despedidas, encontros, aulas, trabalhos, viagens e estudos, os roteiros continuaram apenas roteiros. Confesso que depois que passa o alvoroço eu fico meio sem entender o que que eu fiz ou deixei de fazer tanto pra não vir contar histórias em quadrinhos. Com certeza passei mais horas do que devia no celular.
Quero tirar o pó e a ferrugem desse cantinho. Preciso fazer uma faxina detalhada pra limpar bem os quatro cantos da alma. Eu tava virada de cabeça pra baixo, 2023 veio, me desvirou e colocou meus pés do chão. Tava precisada de um tempo pro sangue descer.
Nem eu acredito que fiquei tanto tempo sem postar aqui. De alguma forma, o grande acontecimento anual do Hourly Comic Day (Dia de quadrinhos toda hora, em tradução livre minha) é o retorno perfeito da newsletter, estar aqui com vocês nessa tradição quadrinística de resistência e resiliência e apresentar pra vocês uma fotografia da minha nova rotina. Para os recém-chegados, o Hourly Comic Day é um evento internacional & anual que acontece no dia 1º de fevereiro, quando quadrinistas do mundo todo desenham um quadrinho para cada hora do dia que estão vivendo. É viver e desenhar, desenhar e viver, às vezes mais um que outro, sem deixar de respirar entre os dois. É possível? É insano? É uma montanha-russa de emoções! Eu faço esse exercício fabuloso há alguns anos e sempre aprendo algo novo. No dia, eu postei o rascunho a lápis nos stories do meu instagram, e hoje trago aqui a versão finalizada com comentários da diretora.
Em 1º de fevereiro do ano passado, eu estava profundamente triste com meu trabalho, numa angústia tão grande que me dava até vergonha do sentimento, porque eu não parecia ter um bom motivo pra estar triste. Querer sair de um bom trabalho pra viver de arte? Quem pensa isso na era da inteligência artificial? Hoje, já distante da decisão que tomei, me arrependo só de não ter feito isso antes, mas sei que tomei na hora que foi possível tomar. Ainda vou fazer um quadrinho disso. E de muitas coisas mais agora estou livre da CLT e pronta para cair na armadilha de trabalhar com o que se ama!
Em 2 de fevereiro desse ano (não consegui fazer no dia 1º e fiz no dia seguinte, afinal, impensável seria deixar de participar) eu estava animada até para pedalar no sol quente e corajosa em enfrentar uma viagem de ônibus de 40 minutos. Eu, que ia andando pro trabalho a meros 4 minutos de distância, agora enfrento um trajeto que envolve caminhada, bicicleta e dois ônibus. Ano passado eu já esperava viver uma realidade diferente (os planos levam tempo pra serem colocados em prática), mas era difícil imaginar que eu não ia me afundar inconsolavelmente em culpa e arrependimento irremediáveis. Ainda sou assolada por uma mente pensante que me inunda de pensamentos que prefiro não expressar. Meditar me ajuda a organizá-los. Fazer quadrinhos também.
Eu tenho minhas quadrinistas favoritas que também fazem hourlies, e vou compartilhar alguns com vocês. A Lucy Knisley, quem me apresentou a data tantos anos atrás, é uma exímia quadrinista e o faz com maestria. Todo ano eu me emociono com alguma página dela (esse ano foi essa bem aí em cima, mas eu recomendo ler tudo). O False Knees mostrou que não é um pássaro e também fez um quadrinho sobre bexiga cheia ao acordar (é isso que chamam de inconsciente coletivo?). Ele foi primoroso mesclando humor e contemplação. A Januaria fez o dela motivada por mim, e mesmo incompleto está perfeito (em português).
A Lynda Barry é minha mentora da subversão e liberdade nos quadrinhos, e fez esse exercício pela primeira vez (em inglês). Como uma pesquisadora, praticante e sábia dos quadrinhos, ela faz todas as reflexões máximas nos quadrinhos dela. É inevitável falar da guerra, da mãe e de como crianças amam quadrinhos. Você nunca sabe aonde os quadrinhos vão te levar. Que luxo insano desenhar quadrinhos o dia inteiro.
Bem-vindos aos novos inscritos da newsletter nesse meio tempo e obrigada aos que aguardaram pacientemente. Por aqui as edições são assim: uma história em quadrinho, geralmente autobiográfica, um textinho de acompanhamento e algumas indicações relacionadas. Não tem uma regularidade definida, e esse último ano eu dei uma sumida, mas também estive aqui o tempo todo e sigo apaixonada por quadrinhos. Esse ano quero estar aqui com alguma regularidade. Que saudade danada eu senti!
Durante meu hiato da newsletter, pensei algumas vezes em fazer uma edição sem quadrinhos, com texto corrido e imagens, pra contar mais sobre coisas que não tenho tempo pra desenhar, ou coisas que eu já desenhei e eu quero recontar em palavras. O que vocês acham? Eu sou apegada ao meu formato de quadrinhos na caixa de entrada, mas tenho pensado pensamentos. E desenhado muitas coisas. Penso que gostaria de contar mais da minha experiência fazendo aulas de gravura, de ilustração, fazendo exercícios de livros de arte, preenchendo cadernos com desenhos, etc, etc. Ter os meus dias dedicados ao desenho me deu uma perspectiva tão mais esperançosa e curiosa do que eu posso fazer com os meus dias. Em meio a novas dúvidas e inseguranças que continuam a pipocar, eu me sinto novamente numa vida que cabe nos meus pés.
Gostei Jana... mas cade o autorretrato em carvão? hahaha
Curto quadrinhos mas sou mt por fora do que é bom. Seria legal se você pudesse dar mais indicações de quadrinhos que você tem lido.
Abraços!
Que felicidade te ver de novo por aqui, janoca! Sou muito fã desse desafio de quadrinhos e, especialmente, de como tu conta teus dias de um jeito tão especial, com o deslumbre do cotidiano. Sei que já falei antes, mas acho que aqui neste espaço cabe muito textos soltos com tuas experiências em desenhos das mais diversas formas, acredito que o resto do pessoal vai gostar também ♡