Meu ritual favorito de ano novo é revisitar as resoluções que pensei para o ano que passou e bolar novas para o ano que começa. Faço resoluções há alguns anos, às vezes de maneira bem vaga, às vezes mais literal, outras bem sonhadora. Não quero colocar as expectativas lá em cima pro tombo não ser muito grande, mas me permito planejar rumo ao sonho. Sonhar é necessário pra nossa vitalidade.
Quando escrevo minhas resoluções não é querendo gamificar a vida ou buscar uma meta incansavelmente ao longo do ano. Evito deliberadamente resoluções óbvias e numéricas que possam terminar em derrota. Eu sou uma má perdedora danada. Evito a frustração de deixar de cumprir uma meta nem a decepção de ter que tentar de novo. A ideia aqui é mais refletir sobre minhas intenções, registrá-las em palavras. Anotar desejos para lembrar deles, porque na correria a gente pode acabar esquecendo o que queremos mesmo disso tudo. Acontece de no final do ano olhar o que escrevi e perceber que me afoguei em demandas de curto prazo e esqueci de olhar pro horizonte. Mais do que gostaria. Algumas dessas metas se repetem ao longo dos anos, sem nunca serem cumpridas. Mesmo tentando ser generosa com as resoluções, não dá pra ser vaga o suficiente para cumpri-las todas. Algumas eu até tento repetir, mas perdem o sentido com o passar dos anos.
Como ferramentas de reflexão e revisão de ano, adoro fazer a Roda da Vida e nos últimos dois anos fiz o Year Compass com amigos. É um livreto imprimível de 20 páginas que te guia a encerrar o ano e se abrir para o novo. Eu sou fã ávida dessas ferramentas detalhadas de escrita terapêutica, mas percebi que para quem não tem o costume constante de revisitar a vida, é um pouco cansativo e moroso. Precisa mesmo pensar tudo isso? Nem sempre se encontra tempo para uma reflexão demorada.
Algumas reflexões são melhores feitas de outra forma, em sonho, na mesa de bar, olhando a paisagem da janela do ônibus. E ficam entranhadas no nosso inconsciente, esperando o momento de emergir. Outras, quando escritas, ganham substância, como um feitiço que precisa ser colocado em palavras para começar a funcionar.
Desejosa de compartilhar meu exercício pessoal, que me ajuda tanto a mapear o que eu faço e espero da minha vida, num formato prático e acessível, fiz uma zine de Retrospectiva 2024 e Expectativa 2025. Para imprimir!
Essa zine é impressa numa folha A4 e pode ser dobrada para se transformar num pequeno livreto. É muito simples, você só precisa das mãos e de uma tesoura e você terá um livrinho.
Experimentei na festa de Natal da minha família, como uma grande oficina de zine natalina, e com as amigas com quem passei o ano novo na Praia da Redonda. Eu já ministrei oficinas de zine em três cidades diferentes, com três públicos distintos, sozinha e acompanhada, mas é sempre uma novidade. E acho que fazer entre pessoas conhecidas pode dar até mais nervosismo que com desconhecidos. Com elas não dá pra fingir, elas me conhecem demais. As pessoas gostaram, se concentraram e depois compartilhamos resoluções e palavras… Minha mãe colocou para 2025 em três palavras “boas leituras e dar apoios”, o que é mais do que três palavras, provando que o modelo é apenas um ponto de partida. Minha tia disse que 2024 foi “díficil, complexo, desafiador”, e um primo meu colocou, manifestando para 2025, que “vai ser melhor”.
Como sugestão da atividade, você pode fazer só ou reunir um grupo de amigos e fazer em coletivo. Coloque uma musiquinha gostosa de fundo e aproveite pra rememorar o passado e sonhar o futuro com carinho. Compartilhar essas reflexões com outras pessoas é uma forma bonita de se deixar conhecer e aprender mais sobre os outros. Fiquem à vontade para salvar, imprimir, compartilhar, dobrar, cortar, rasgar, queimar ou não usar! Eu peço apenas que me referenciem como autora e não façam uso comercial.
Eu fui mais ousada que o normal nas minhas resoluções esse ano, escrevi hábitos bem específicos que quero construir, repensar ou retomar. Ano passado, deixei de me exercitar por falta de tempo, mas o tempo passou e nunca se abriu outra janela pra eu voltar a me mexer. Em vez disso, abriu-se um leque de dores e cansaços que eu não tinha antes. Minha eu do passado ficaria decepcionada de saber que eu não faço mais atividade física diariamente. Então um hábito que quero e preciso retomar é o da atividade física, algumas vezes na semana para somar ao frevo que faço uma vezinha só. Tô na dúvida entre natação, academia ou yoga, mas tô aberta às possibilidades, inclusive à danada da preguiça.
No campo do trabalho e estudos, prefiro não compartilhar minhas metas para o segredo fortalecer o feitiço. Para a newsletter Cabelo-nuvem, quero continuar enviando notícias e desenhos mensalmente, quase sempre às quartas-feiras. Estou mapeando novidades… Essa zine para preencher é o começo de muitas ideias! Tem criação que é melhor quando multiplicada. E tenho pensado em trazer por aqui mais material para compartilhar, que inspire vocês a criar aí nas casas de vocês. Exercícios, tutoriais, passo-a-passo de alguma dobradura. Que acham? E o que mais vocês gostariam de ver por aqui? Posso compartilhar mais de alguns projetos. Esse ano, quero aprender coisas novas, como todo ano, pois sou uma louca dos hobbies, e ganhei de presente de Natal uma máquina de costura. Tô ansiosa por essa nova habilidade a ser desbloqueada!
A Sarah Mirk, uma enorme referência na criação de zines sobre os mais variados temas, também tem uma zine de Reflexão de Fim de Ano (em inglês). Se você lê inglês, eu recomendo demais navegar na página dela, onde tem várias zines dela pra imprimir, como por exemplo uma zine sobre aborto ou uma zine para entender o que você sente sobre o seu gênero. Eu meio que quero ser ela. Mas eu juro que já tinha feito a minha zine antes de ver a que ela fez! Eu levo muito a sério a minha originalidade, e agora estou profundamente triste por não ter criado eu mesma a zine para presentear um amigo.
Em outras notícias, essa semana foi lançada uma iniciativa ótima, a Biblioteca de Zines! Um projeto para catalogar e disponibilizar online o acervo de zines nacional. Se você faz zines e quer disponibilizar lá, a equipe está coletando exemplares nesse formulário. A equipe é colaborativa e está se construindo no momento, então você também pode somar nessa ideia maravilhosa.
Hoje à noite tem oficina de zine gratuita com a Giovanna Cianelli. Ano passado essa mesma oficina foi um disparador pra voltar a criar minhas zines. Se eu já não tivesse minha aula de frevo, eu ia fazer de novo. Se eu fosse tu, eu ia.
Que venham muitas zines e boas resoluções pra nós nesse novo ano!
Que não façamos da lista de resoluções uma gamificação da nossa vida, que estejamos abertos às possibilidades e inclusive ao fracasso completo. Como disse Taís Bravo, a vida não cabe numa lista de resoluções. Tem grandes chances desse ano ser de novo díficil, complexo, desafiador, mas podemos fazer disso algo um pouco melhor.
Esperando que tenham começado o ano em clima de paz e esperança, mando abraços e boas dobraduras,
Jana
Eu vim aqui falar da Biblioteca e... você já falou dela! <3
Que edição linda pra começar o ano! E eu em 2025 eu adoraria ver tudo o que tua cabecinha e mãos quiserem compartilhar.