Eu cresci e morei a maior parte da minha vida em capitais, mas toda vez que eu vou a São Paulo eu me sinto muito uma matuta do interior chegando na cidade grande pela primeira vez. Eu sei andar de metrô, de ônibus e me viro bem com mapas quando estou viajando, mas São Paulo tem uma lógica única. Qualquer deslocamento dura uma hora, e nada fica perto de nada. Como pode?
Fui a São Paulo para participar da minha primeira feira na maior megalópole da América Latina! Acompanho a Feira Miolos de longe há uns anos, pude participar da edição que teve em Olinda em 2022 e ficava imaginando como seria conhecer a edição original, seja como público seja como artista. É uma feira imensa, com mais de 300 expositores de várias técnicas, poéticas, produtos, e fiquei muito feliz e ainda um pouco insegura de estar no meio de tanta gente incrível. Faz parte, não é?
Vários leitores da newsletter passaram na mesa. Enviando um texto virtual e sendo lida em outras telas, nem sempre a gente entende que são mesmo pessoas que estão me lendo. Nesse meio tempo a Cabelo-nuvem chegou à marca de 1000 inscrites! Obrigada por isso, minha gente. Bem-vindes a quem chega por aqui e obrigada a quem fica. Acho que prefiro não ter muita consciência de que escrevo pra tanta gente. Vou continuar pensando que escrevo pra uma dúzia de pessoas (o que já é muito!).
Como artista, não sobra muito tempo pra passear e conhecer os expositores, mas claro que a gente dá um jeito e ainda comprei e troquei alguns zines para a minha coleção e pude conhecer muita gente que eu acompanhava e admirava do instagram. Um abraço grande pra minha professora de pop-up Sil Beraldo!
Levei os meus produtos de sempre, quadrinhos, zines de dobraduras, adesivos e prints e um lançamento especial: um Calendário 2025! Imprimi 15 unidades e voltei pra casa só com uma, fiquei super feliz. O calendário é todo ilustrado com guache e lápis de cor, com pinturas no tema das manualidades têxteis, que têm tanto me encantado nesses últimos meses. Pintei inspirações de anos, referências que descobri esse ano, amigos, família, minhas gatinhas. Ficou bem colorido e bonito.
De São Paulo, dei um pulinho em São José dos Campos onde mora uma das minhas amizades mais antigas, Gab, que conheço desde os confins da internet quando navegávamos num fórum de Sakura Card Captors e conversávamos no MSN. Nos conhecemos na internet e depois trocamos cartas durante muitos anos. Cartas que escrevíamos durante a aula, como se estivéssemos trocando um bilhetinho enquanto o professor explicava, apesar de morarmos a milhares de quilômetros de distância. Cultivar amizades tão antigas é poder acompanhar um ao outro em inúmeras fases da vida, e acolher as mudanças que vão acontecendo com a gente.
Passamos dias gostosos juntes conversando sobre nossas vidas, sobre livros, sobre comida. Lemos uma do lado da outra como fazíamos tanto na adolescência, e jogamos muito Soletra. Foi um contraste bonito com os dias em São Paulo, porque o tempo parou um pouco na casa de Gab e Julian. Como boas loucas dos hobbies, falamos de crochê, bordado, costura e pude experimentar a máquina de costura de Gab! Fiz meus primeiros pontos! Será se vem aí um novo passatempo?
De volta a São Paulo, passeei um monte. Estava muito bem acompanhada por Laura Mazzo, minha anfitriã maravilhosa que me recebeu na sua casinha cheia de bichos, plantas e manualidades. Adoro viajar e ficar na casa das pessoas pra ver como elas vivem, como compõem seus lares.
Fomos no MASP e na Pinacoteca. Apreciar arte depois de ter me tornado uma estudante de Artes é um pouco mais complexo e interessante. Eu sou aquela tirinha do Rouco, eu não quero só sentir, eu quero entender! Estudando História da Arte, Composição, Cor, muitos elementos das pinturas surgem pra mim de uma maneira mais fascinante. Mas às vezes é muito bom só sentir também.
No MASP, a exposição do Leonilson estava delicadíssima, Laura se emocionou. É sempre gostoso ir ao museu junto pra trocar gracinhas e ver como aquilo afeta o outro. Acabamos nos afetando também, não é?
Vi também os famosos cavaletes de Lina Bo Bardi. Eu não sabia nada sobre eles até todos os meus amigos dizerem que eu tinha que ir no MASP para ver enfim os cavaletes de Lina Bo Bardi. Se você, assim como eu, não sabe do que estão falando, esses são os cavaletes inicialmente projetados para expôr as obras mais importantes do acervo do museu. Eles consistem em um bloco de concreto e uma placa de vidro enfiada nele e são chamados de cavaletes de cristal. Delicados, elegantes e transparentes. Você consegue ver o saguão inteiro e todas as obras ali expostas. Pra quem é ansioso é bom ou é ruim? Eu e Laura não conseguimos decidir. Eu gostei. Ficamos percorrendo o museu em zig zag, como um labirinto. As obras estão organizadas em ordem do contemporâneo pro mais antigo. Gostei disso também. Permitiu capturar nossa atenção com as obras mais modernas no início e manteve nossa atenção capturada quando começaram os clássicos.
Na Pinacoteca, uma exposição impressionante de arte têxtil tradicional africana me deixou hipnotizada. Técnicas de tingimento, de bordado, de miçangas, máscaras, colchas, mantas… Uma coisa mais linda que a outra. Tinha as máscaras de elefante mais maravilhosas que já vi. Colchas de retalhos e de miçangas. Uma parede com bordados criados livremente como num improviso musical. Os padrões pareciam padrões até que se transformavam em algo único. Muito bonito.
Além disso, vimos o acervo fixo e o porco empalhado de Nelson Leirner. Eu jamais imaginaria que ficaria arrepiada em ver um porco empalhado, e fiquei. Fui numa exposição do artista na Caixa Cultural Recife com minha turma da universidade e lá tivemos um grande debate sobre autoria e a diferenciação entre arte e artesanato. Na ocasião, a turma questionou porque as tapeçarias do artista não creditavam o artesão que havia tecido as peças. A resposta intransigente da professora foi que não cabia, que o artesão que tinha confeccionado a peça não era o autor, e não possuía pensamento artístico, que o conceito era de Nelson Leirner. PAM. No museu, procurei a plaquinha pra ver se o porco estava creditado. Adivinhem: não estava.
Visitei a exposição do Escambo Gráfico para prestigiar a baleia em linóleo de Gab. Ficamos desenhando na mesa das crianças nossas assinaturas. Gab criou um lindo monograma para assinar suas gravuras, e eu fiquei inspirada em criar algo parecido para mim. Fui no lançamento de Filosofia do Mamilo de Kael Vitorelo, que já li e é um dos meus quadrinhos favoritas do ano.
Da experiência paulistana, andar de metrô é a mais arrebatadora. Para mim que venho de uma cidade onde metrô é um trem de superfície caindo aos pedaços que quase nunca serve aos meus deslocamentos, fazer quase tudo de metrô é um luxo do transporte público. No domingo da feira, ainda tive direito a passe livre, porque era dia de ENEM. Que delicioso viver a utopia da mobilidade urbana. Em algumas das estações, me deparei com obras de arte nas áreas de passagem. Encontrei um infográfico detalhando todas as obras presentes em todas as linhas, e fiquei pensando num passeio turístico envolvendo as obras de arte do metrô, todo no subterrâneo, com o guia apresentando os artistas entre cada estação. Talvez um tanto claustrofóbico? Eu faria esse passeio.
Enquanto estava por lá, dei um pulinho na Festa do Livro da USP e na Feira Ogra. Comprei mais livros do que podia carregar (10 livros), mas não mais do que minha amiga Ayla (11 livros). Ela poderia argumentar que os meus eram mais pesados então eu me lasquei mais. Eu diria que nos lascamos juntas. De alguma forma, consegui voltar com tudo sem pagar excesso de bagagem. Ainda bem que eu vendi os calendários quase todos!
Voltei pra casa satisfeita das feiras e alegre por ter reencontrado os amigos, trocado ideias e risadas, convivido na rotina com pessoas que tão longe. É gostoso curtir a amizade por dias a fio. Mas voltei pra casa feliz por estar de volta à minha casinha também. São Paulo é acelerada, você se acelera junto. Eu não queria perder nada. Fiz coisa demais! Ainda bem.
Por fim mas sim muito importante: os calendários estão abertos à venda online! Estarei com eles na minha próxima feira, a Motim em Brasília, e, se você se interessar, já pode conferir na minha lojinha. Tá bonito, grande e colorido. É tamanho A3, com 12 pinturas em guache e lápis de cor impressas no papel couchê 170g, acabamento em espiral e pendente. A grade de calendário tem datas especiais e as fases da lua. Cada unidade está a 120 reais. Teve pesquisa para cada ilustração e muita dedicação e carinho em cada uma das pinturas. Espero que se apaixonem pelo têxtil também!
Beijos,
Jana
Não acredito que perdi sua passagem por São Paulo, que pena! Mas feliz de ver que você aproveitou tão bem a cidade e que foi bem tratada por essa maluca megalomaníaca. Curiosamente, nas últimas semanas fiz alguns dos passeios que você citou e adorei revisitá-los pela sua perspectiva.
Volta logo!
beijos beijos
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