Essa semana acontece o Festival Internacional de Quadrinhos (FIQ) em Belo Horizonte! É o evento máximo dos quadrinhos no Brasil, com a melhor concentração de pessoas que amam quadrinho por metro quadrado. Nesta exata hora do envio dessa edição, estou provavelmente terminando de tomar um cafezinho com broa no Mercado Público logo antes de preparar minha mesa para receber os visitantes. Se você mora em Belo Horizonte, adoraria te encontrar! O evento tem entrada gratuita, e acontece de 22 a 26 maio, no Minascentro, das 8 às 20 horas (no fim de semana começa às 9h). Eu estarei na Mesa 146, lado a lado com Laura Mazzo, amigue e quadrinista incrível que também faz quadrinhos autobiográficos e zines interativas.
Passei as últimas semanas desenhando e assistindo pessoas desenharem enquanto desenhava. Fiz um quadrinho inteiro que estava rascunhado para ser uma edição da newsletter e virou zine, meu lançamento no FIQ, chamado Desconectada. Uma breve reflexão sobre a hiperconectividade que o celular nos possibilita, disparada pelo fortuito furto do meu celular. Por que… possibilita mesmo?
O quadrinho tem 20 páginas, capa colorida e miolo em preto e branco. É uma história que venho cultivando há alguns meses. Nunca tinha desenhando um projeto com essa quantidade de páginas, e é curioso que no final do processo eu tenha vontade de fazer tudo diferente, porque aprendi tanta coisa depois do tempo que passou. Ele é diferente e fruto de tudo o que eu já fiz, não só mais longo como mais silencioso. Espero que as pessoas gostem! Ou que coloque uma pulga atrás da orelha. Isso seria legal também.
Eu já fui a Belo Horizonte algumas vezes, esse é o meu terceiro FIQ. O meu primeiro foi em 2015, quando levei três zines de quadrinhos e vendi no estande Vênus Press. Dois autobiográficos e um de ficção que criei a partir da Oficina de Quadrinhos da UFC. Foi um evento em que encontrei tantas pessoas de quem era fã e amiga só na internet, e que me injetou uma vontade danada de continuar fazendo quadrinhos. Na época, foi o que me estimulou a criar essa newsletter, na sua primeira temporada no finado Tinyletter.
Meu segundo FIQ foi em 2022, quando participei com mesa de artista, dividindo com o ícone Jéssica Groke. Juntei (quase) todos os quadrinhos que eu tinha enviado na newsletter e compilei no livro Cabelo-nuvem. Uma coletânea de dez histórias autobiográficas sobre comida, pessoas, cidades e sentimentos. Entre uma anedota cotidiana e outra, eu desenhei meu carinho pelas amizades, meu cuidado na construção de um lar e minha busca e encontro de mim mesma. Durante o evento, me senti insegura, animada, agitada e ansiosa. Foi divertido e intenso.
Esse ano pela primeira vez estou levando prints! Eu tinha um único print no catálogo, sei lá por quê, e agora juntei mais alguns. É parte dos meus estudos de ilustração que venho fazendo no último ano. Além de quadrinho novo e dos prints, também estarei com uma nova ecobag. Terminei a leitura de Sociedade do Cansaço, do Byung Chul-Han, com a cabeça explodida e decidida a criar algo a partir daí. O autor sugere um cansaço fundamental, que diferente do esgotamento nos habilita a uma serenidade e calma especial, a um abandono do fazer sereno. Nessa sociedade do cansaço, entendemos o lugar do descanso, e nos permitimos repousar. É quando tudo se torna admirável. Ele evoca uma pintura de natureza morta holandesa em que, além do belo arranjo de flores em vaso, vemos também bichinhos e insetos repousando sobre as flores e folhas. Adorei essa imagem.
Se interessou? Pois se você é de BH, venha me ver no FIQ! Vai ser demais! Tô viajando de mala cheia e quero voltar com ela mais maneira. Ou cheia de quadrinhos comprados e trocados. Se você não é de BH, compartilha com quem você conhece de lá! E me acompanha no instagram, eu vou ficar postando os registros dos cinco dias de festival. Tô animada e pronta pra me sentir ansiosa, insegura, agitada e extasiada tudo de novo.
Em outras notícias, estou profundamente devastada com o que está acontecendo no Rio Grande do Sul. Como alguém que acompanha a causa ambiental há décadas, é estarrecedor perceber que ninguém faz nada há tanto tempo e com tantos alertas. Queria que minhas escolhas individuais tivessem poder coletivo, mas não é assim que o mundo funciona. Pablito Aguiar, um quadrinista de Alvorada, RS, está fazendo uma série de reportagens em quadrinhos para o Portal Sumaúma, e recomendo a leitura. Delicado, honesto e devastador. Mantenham-se seguros e informados, e ajudem a causa como puderem.
Obrigada por acompanharem a newsletter, por me lerem, responderem, comentarem. Fiquei muito feliz com a repercussão da minha opinião atualizada sobre O Caminho do Artista! Eu não queria que me achassem ingrata e terminei contente em encontrar tantas pessoas que também são capazes de se abrir para um livro com o qual não concordam integralmente, mas reconhecem seu valor.
Até quem sabe já já pra gente falar de quadrinhos,
Jana
Já quero minha edição do Desconectada. 🤩
Muito sucesso nesse FIQ, Jana! Se sobrarem edições do Desconectada eu quero um hehehe 💕